Tamirez | @resenhandosonhos 17/10/2018HEXThomas Old Heuvelt faz sua estreia no Brasil com um livro que mistura o terror clássico com tecnologia, e situações cotidianas que arrepiam o leitor, não por ser uma história aterrorizante, mas por trazer muito da natureza humana e de suas falhas de caráter.
Eu, particularmente, quando pego um livro assim, sempre coloco um pé atrás, pois sou difícil de assustar com narrativas de suposto terror. Porém, mesmo não tendo encontrado o assombro aqui, me deparei com algo tão interessante quanto: uma releitura mais moderna de algo que já vimos muitas vezes por ai, uma cidade “assombrada”. E, quando isso se torna “casual e corriqueiro”, as pessoas perdem o medo das consequências, se colocando em posições que podem ser ainda mais assustadoras que a própria bruxa.
Bruxa essa, aliás, que foi por quem eu torci em grande parte da história. E isso, por si só, já traz um diferencial. Em quantos livros do tipo você já se pegou torcendo pelo suposto “vilão(ã)”, ao invés do mocinho(a) que sofre as consequências terríveis dessa interação?
A questão é que aqui, logo percebemos que há coisas muito piores em Black Spring do que Katherine, além do fato de irmos e voltarmos na narrativa, conhecendo o que verdadeiramente aconteceu com ela no século XVII e perceber que ela pode ter sido mais uma vítima do famoso período de caça às bruxas que levou tantas mulher a mortes injustas.
E, claro, temos os adolescentes que querem testar todas as lendas. É insensato, mas completamente compreensível. Você tem um grupo de pessoas mais velhas, que impõe uma série de restrições a todos eles, inclusive de internet, afinal, não pode vazar nenhuma foto ou imagem da bruxa se não todos correm riscos de terem a cidade invadida por curiosos e pessoas querendo realizar testes, como já ocorreu previamente. Porém, a forma como alguns desses jovens agem frente à situação, é extremamente abusiva e repulsiva. Porque, mesmo cercada de lendas e história, Katherine não parece alguém mau que “merecia” ser tratada da forma que é, num primeiro momento. E, sim, eu sei que há muitos poréns e questionamentos nessa afirmação.
A questão aqui é exatamente todos os questionamentos que surgem por esse caminho ao longo da narrativa? Quem está certo? Há muito sobre velhos costumes aqui, uma sociedade regada por crenças passadas, preconceitos enraizados e tudo isso sendo espelhado na forma como eles lidam com cada situação. E, a forma como agimos frente as coisas nos mostra muito sobre quem somos ou no que acreditamos e, ao meu ver, Hex é muito mais sobre esse mal que emerge das pessoas em situações assim, do que realmente sobre uma bruxa que assombra a cidade.
A escrita de Thomas toma seu tempo para contar a história e vai e volta trazendo o momento presente e fatos do passado. Em certos pontos há bastante descrição, em outros a narrativa flui super rápido, especialmente no final.
Hex foi uma surpresa, não por ter sido aterrorizante e amedrontador, mas sim pra provar que as histórias que já conhecemos de trás pra frente podem se reinventar e levantar questões diferentes, mais atuais e com mais propósito.
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