cristian 08/08/2021
"Não amamos porque é belo, mas é belo porque amamos."
"Quando uma pessoa vê um animal que morre, um horror a domina: aquilo que é ela mesma deixa de existir - sua essência está obviamente sendo aniquilada diante de seus olhos. Mas quando o que morre é uma pessoa - e uma pessoa querida - experimenta-se então, além do horror diante do aniquilamento da vida, uma sensação de dilaceramento e de uma ferida espiritual que, a exemplo de uma ferida corporal, às vezes mata, às vezes cicatriza, mas sempre dói e receia qualquer toque externo que a irrite. "
Guerra e paz não é apenas um romance, um épico ou uma crônica histórica. Individualmente esta obra não poderia ser nenhum destes gêneros. Guerra e paz é uma obra além de qualquer um destes gêneros literários. É um romance, é um épico e é também uma crônica histórica. E mesmo que apenas contemplemos guerra e paz com tal descrição, estaríamos diminuindo o significado da própria obra.
Apesar do imenso volume, a leitura flui de uma forma incrível, a narração é extremamente dinâmica e as descrições psicológicas são muito refinadas. Tolstoy nos apresenta, ao decorrer da leitura, diversas metáforas a respeito da própria vida, nos descreve momentos felizes, fala sobre o amor, descreve momentos de contemplação, assim como nos coloca diante da própria morte. Aliás, sobre a morte, Tolstoy talvez tenha conseguido, como ninguém, descrever o indescritível - A morte de Ivan Ilitch mostra toda sua capacidade quando ele trata deste assunto. Não é uma obra simples, é uma obra que as experiências de vida nos ajudam muito a submergir em seu oceano. Então guerra e paz deve ser lido após certa idade? De forma alguma, é uma leitura que acrescentará muito ao leitor, e por isso é uma obra que terei muito prazer em reler em meados dos meus 30 anos e assim por diante, tendo a certeza absoluta de que vou experienciar de uma nova forma muitos dos aspectos literários dos quais me deparei durante a minha primeira leitura.
Dito isto, guerra e paz é uma obra perfeita? Antes de responder a tal pergunta, deixo claro de antemão que guerra e paz é um dos melhores livros que já li, e tenho certeza que é uma obra literária que estará constantemente em uma parte do meu coração. Dessa forma, voltemos à pergunta: Não, não é uma obra perfeita. Tolstoy decidiu pôr um ensaio proprietário definindo um novo viés, ao seu ver, do estudo e compreensão da história ao decorrer do livro. Tolstoy define três viesses históricos: o primeiro, e clássico, que atribui às divindades a constante interferência no curso da história; o segundo, à luz da ciência, deixa de atribuir a forças espirituais certos acontecimentos, mas os substitui, ao perfeito equivalente, a heróis, que teriam o mesmo papel destas divindades abandonadas; por fim, Tolstoy propõe uma terceira interpretação da história, da qual deve ser analisado o movimento das massas como um dos fatores principais. Estes são conceitos diluídos ao decorrer da obra, e é maravilhoso a forma como nos é apresentado, porém, em determinada altura pode ser repetitivo para quem não tem interesse. Inclusive, uma dica de ouro que posso dar aos novos leitores, é encarar a parte 2 do epílogo como um posfácio, pois Tolstoy simplesmente repete todo o seu ensaio novamente!!! São 50 páginas que podem ser lidas em qualquer momento, pois a conclusão de guerra e paz acontece no epílogo parte I.
Enfim, desejo a todos que cogitam ler esta obra incrível uma experiência tão agradável e enriquecedora tal qual foi a minha.