Dani do Book Galaxy 28/10/2023A "diferentona" mais clichê de todos os romances teensÀs vezes eu me pergunto se não tenho algum traço masoquista na minha personalidade. Porque lá fui eu mergulhar em mais uma leitura que eu sabia que estava fadada a não me conectar.
Bom, sendo justa, eu queria muito ler algo leve e rápido como um romance adolescente, talvez algo engraçado, e este romance que estava parado no meu Kindle parecia um candidato tão bom quanto qualquer outro.
E o fato de que eu não gostei da leitura não foi tanto pelo tema adolescente, ou pela escrita (aliás, a escrita foi até bem ok, apesar do livro ser desnecessariamente longo).
O problema foi a protagonista, mesmo.
Eu estou ciente de que o livro foi escrito no começo dos anos 2000, onde a influência de romances teens - principalmente os da Meg Cabot - se faz muito clara no modo da escrita da autora. A gente até dá um desconto por isso, afinal também sou dessa geração e já escrevi incontáveis histórias sobre adolescentes vivendo no cool ensino médio americano.
Porém, a concepção de Julie como protagonista se mostra extremamente forçada para mim, no alto dos meus 30 anos. Mas, pensando bem, eu acho que também não gostaria muito dela se tivesse lido o livro aos meus 12, 13 anos.
Fiquei até surpresa que no fim do livro Julie não tenha descoberto a cura para o câncer ou ganho um prêmio Nobel da paz, porque ela é o clichê mais batido de todas as personagens dIfErEnToNaS dos romances adolescentes.
Em 30% do livro ela já tinha virado líder de torcida, técnica do time de basquete, concorrido à presidência do corpo estudantil, e ainda era melhor amiga dos meninos populares que achavam ela o máximo porque ela gostava de pizza e de andar de moto… pega todos aqueles clichês de romance high school norte americano, joga num Chat GPT e pede para ele vomitar um roteiro e voilá!
Bom, outra coisa que me incomodou bastante são os adultos nesse livro. Além de serem praticamente inexistentes, os poucos que transitam pela história são totalmente apagados, e até meio burros (a diretora da escola é péssima). Perdi a conta de vezes em que os adolescentes iam parar no hospital por qualquer coisinha e nenhum dos pais NUNCA estavam por perto, e os médicos passavam a receita dos remédios pros OUTROS adolescentes que estavam acompanhando o paciente. Muito cringe.
Outras coisas me incomodaram, porque acho que não se trata tanto da escrita da autora nem nada, e sim de uma bela revisão para pescar buracos na história e amarrar melhor as situações. Como o livro saiu do orkut e de fato foi publicado, uma edição mais séria poderia ter salvado um monte de coisas esquisitas, como situações em que uma adolescente de 16 anos pegou um avião sozinha, ou foi em um bar para tomar bebida alcóolica em plena Nova York (e dançando bêbada com o garçom??).
Mas, novamente, passando pano para a autora, ela era bem novinha na época em que escreveu, e provavelmente não se preocupou muito em se ater à realidade ou algo assim.
Em suma; eu acho que até teria perdoado todos esses defeitos e os clichês e a personagem principal não fosse tão decepcionante.
A Julie é muito chata, reclamona e sem noção, mas por algum motivo todas as pessoas são apaixonadas por ela. Tem algum feitiço nela que não entendo como acontece, porque ela é mesquinha, vê todas as outras meninas como rivais ou com condescendência (porque ela é tão melhor que todas elas), e a única outra personagem feminina da história que não é a) uma adulta sem noção ou b) uma garota desmiolada, é a amiga dela que passa 90% do livro correndo atrás do namorado.
Bem, não foi uma leitura de todo ruim afinal, porque acho que o gostinho nostálgico “Meg Cabot” e “Mean Girls” meio que me fez querer ir até o final. Talvez jovens adolescentes se conectem com o livro, não sei; eu acho que eu mesma não o teria feito, mas enfim.
É uma leitura levinha para passar o tempo, mas poderia ter umas 200 páginas a menos que rolaria mais suavemente.