Valéria Ribeiro 15/10/2024
Mistério e mulheres independentes
"Rainha do Ignoto" (1899) é uma obra da escritora cearense Emília de Freitas, considerada um dos primeiros romances brasileiros a explorar temas do misticismo e do feminismo. Inserido no contexto literário do final do século XIX, o livro se destaca por ser pioneiro ao abordar a espiritualidade, as relações de gênero e a crítica social de forma inovadora, misturando realismo e fantasia. Embora tenha sido pouco difundido na época, a obra ganhou mais reconhecimento nas últimas décadas, especialmente com o interesse acadêmico por escritoras esquecidas da literatura brasileira.
O romance se passa em uma cidadezinha do interior do Ceará, onde circula a lenda de uma misteriosa figura feminina chamada Rainha do Ignoto, conhecida pelos locais como Funesta. Essa personagem enigmática lidera uma comunidade espiritual secreta, à qual estão associados rituais místicos e doutrinas filosóficas. A narrativa mescla as histórias do cotidiano dos personagens locais com a busca por esse espaço oculto, que simboliza tanto o desconhecido quanto a libertação.
A figura dessa mulher misteriosa ocupa totalmente o imaginário de Edmundo, um jovem advogado que se encontra na cidadezinha para descansar de suas viagens. Para conhecê-la e a seus mistérios, não mede esforços e auxiliado por Probo ele penetra em seu reino ignoto, secreto e totalmente feminino. É partir dessa invasão que a história se desenrola.
A "Rainha do Ignoto" representa não apenas uma figura mística, mas também uma alegoria para o desconhecido e para o poder oculto das mulheres em uma sociedade patriarcal. Ainda, a obra denuncia a opressão feminina e a hipocrisia da sociedade, propondo uma reflexão sobre o papel das mulheres, explorando a ambiguidade entre o racional e o místico.
Emília de Freitas adota uma linguagem simples e pouco elaborada, mas insere descrições minuciosas da paisagem e do ambiente local, cria um clima de mistério e de mística e isso torna a leitura bastante interessante.