rafael.venancio 27/08/2020
“Vais encontrar o mundo – disse-me meu pai, à porta do Ateneu. – Coragem para luta”
Não é o internato que faz a sociedade, o internato a reflete. Nada é tão naturalista quanto essa máxima do narrador-personagem, porque, de fato, em O Ateneu é possível vislumbrar as maiores baixezas e vilanias do homem em sociedade: da bajulação à violência, dos desejos inconfessados às loucuras inauditas, tudo é refletido. A diferença está, por óbvio, no tamanho das interações: em sociedade somos obrigados a conviver com um maior número de sujeitos e somos compelidos a usar um maior número de máscaras; enquanto que no internato, Sérgio tem de lidar com as mesmas pessoas dias a fio e aprender a ser sujeito em um lugar que, na verdade, não molda humanos.
O conflito principal de O Ateneu consiste no antagonismo entre o narrador-personagem e o diretor do colégio, o vaidoso Aristarco. Controlador, narcisista, dissimulado, arbitrário, Aristarco é um fracasso em termos pedagógicos. É incapaz até mesmo de pôr ordem à própria casa. Ora, vejam só, o diretor do Ateneu, sempre vaidoso de sua posição de educador, exímio amante da aristocracia (daí seu Aristarco = aristocrata) tinha, nas entranhas de seu lar, vejam só!, um “republicanozinho” como filho! Mas vendia-se como o melhor professor, mesmo que errasse, até mesmo, assuntos básicos de cosmografia!
Entrementes, o Ateneu ardeu em chamas e Sérgio, adulto, sobreviveu à maldade subjacente daquela instituição. Raul Pompéia, no entanto, suicidou-se.