rosangela 07/07/2010
GERMINAL - ZOLA, ÉMILE - tradução de Francisco Bitttencourt – São Paulo: abril cultural, 1981.
Germinal = mês de março. Tema: povo
Narrativa complexa e detalhista de toda uma família – Vicente Maheu, conhecido como boa morte, - trabalhou 45 anos no fundo da mina de Montsou e há 5 anos estava na Voreux e seu avô com 15 anos já trabalhava na primeira mina da Companhia – personaliza o povo na época da Revolução Francesa no apogeu da exploração de minas de carvão.
Detalhadamente vivenciamos a vida dos burgueses, dos chefes e empregados das minas de carvão. A riqueza dessa obra são as descrições minuciosas que nos transportam para dentro das minas, para dentro dos lares pobres dos mineiros e suas famílias raquíticas, grosseiramente transformados em animais de extração de minério, tais quais os cavalos levados para o interior das minas - esses nunca mais viam a luz do sol – a não ser para acabarem de morrer. Há passagens que marcam pela precisão dos detalhes.
O povo naquela província é descrito de forma perfeita. As pessoas, as moradias, os costumes, o lares, o alcoolismo, a fornicação, o desespero, as doenças e a greve que leva o povo ao pior patamar de sua existência. A exploração e a vida dos burgueses em segundo plano enfatizam mais ao povo das minas transformando a narrativa num drama jamais visto por aqueles criados bem longe desse período e dessa atividade.
Realça também a vida do moço nômade que chega e quer ser um sindicalista intelectual – Etienne Lantier, 21 anos, mineiro da Voreux – Companhia mineradora – e que acaba por morrer soterrado após tanta luta inútil, tantos sonhos perdidos, tantas lutas sem sucessos. Um rapaz sensível e ao mesmo tempo preocupado com seus discursos e conhecimentos soltos, imprecisos, desconexos, autodidatas que se confundem com a realidade totalmente adversa da teoria. Um sonhador que se perde em meio ao caos criado por seu sonho de greve e conquista de melhores condições de vida para os mineiros. O que consegue são mortes, desatinos, agressões, desespero, atos animalescos e total descontrole da situação.
Alguns trechos da narrativa me lembraram O Cortiço de Aluísio de Azevedo, quando os personagens representativos do povo estão em seus barracos ou fornicando pelos arredores ou bebendo em tão escassos momentos em que não estão na mina.
O lugar, o tempo, a neve, a noite, os dias, a mina, a fome, a morte, as brigas, os esconderijos, o povoado, os personagens marcantes, as situações de cartase, a armadilha, a preparação para a destruição total da mina, o soterramento dos mineiros tudo descrito de uma forma inesquecível!