spoiler visualizarAldemir2 21/08/2022
Melodrama (Lorde, 2017)
A primeira vez que ouvi falar sobre *Os sofrimentos do jovem Werther* foi na primeira aula de romantismo no ensino médio, já que esse livro é considerado o marco inicial do movimento romântico, no entanto, sempre tive um certo receio de pegar ele de fato para ler. É um livro do século XVIII, o que não é muito comum para mim já que normalmente os clássicos que leio foram publicados nos séculos XIX e XX, então imaginei que poderia ser uma leitura mais complicado com uma linguagem bem mais rebuscada e resultando em uma leitura bem mais arrastada, mas não foi nada disso, na verdade foi uma leitura super rápida de ler o que me surpreendeu muito e com certeza ajudou a me fazer gostar bastante dessa história. Vamos por partes pois são muitas coisas para falar acerca de um livro tão curto.
Publicado originalmente no ano de 1774, *Os sofrimentos do jovem Werther* é uma das mais famosas (se não a maior) obras do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Escrito de forma epistolar com algumas passagens em narração por um editor que diz ter reunido e organizado aqueles escritos sobre Werther, esse romance é considerado por muitos como o marco inicial do Romantismo já que apresenta algumas características que mais tarde iriam influenciar o movimento: uma narrativa voltada ao interior do protagonista, uma coisa mais egocêntrica já que tudo gira ao redor dele; um interesse romântico, mais comumente uma mulher, considerado o ser mais puro e angelical que o personagem irá encontrar; um ar melancólico e sombrio que contrasta com o amor idealizado e puro, considerado a “luz”. Então, antes de começar a ler esse livro, não esperava que fosse gostar muito já que imaginei que ele seria básico e seguiria essas características a risca, sendo meloso e nada surpreendente, mas foi um engano muito grande. Quando aprendemos na escola sobre os movimentos literários, temos a impressão que os livros presentes em cada escola seguirão os moldes de seus referentes movimentos, mas isso não se aplica sempre. Peguemos por exemplo José de Alencar, o principal nome do Romantismo brasileiro, mas não podemos dizer que seus romances seguem sempre os moldes românticos, afinal, podemos dizer que Lúcia de *Lucíola* é uma mulher pura e angelical? Essas características que nos são ensinadas estão sim presentes em algumas obras da época, mas nem sempre estarão lá e em determinados casos pode até haver o contrário dessa característica, sem deixar o romance ser desconsiderado dentro do movimento. No caso de *Werther*, pelo olhar do protagonista conhecemos Lotte, seu interesse romântico, que aos olhos dele é o ser mais perfeito que ele já encontrou, mas, sendo um romance narrado em primeira pessoa (todas as cartas e escritos usados na narração são do punho de Werther), não podemos considerar que a pureza e perfeição de Lotte seja um fato verídico, afinal, ao ter um certo relacionamento romântico com o nosso jovem gado mesmo já estando comprometida com outro homem. Além disso, outro ponto que se deve considerar do movimento romântico é como o amor é idealizado e perfeito lá, mas no caso de Werther ele na verdade é a sua perdição desde o início, um amor impossível que não é nem um pouco perfeito e para mim pareceu até mesmo que era uma certa ironia do autor ao utilizar tanto melodrama. Werther não é um jovem com quem o leitor consegue se identificar tanto assim ou um exemplo para alguém. Ele é na verdade meio sem sentido, em uma certa passagem o próprio até fala que às vezes as pessoas dizem que ele faz comparações sem sentido e que logo o fazem se perder nos seus argumentos, ele parece mais a representação de um jovem chato, idealista e romântico demais ao ponto que não pode ser considerado um herói ou um personagem adorável, mas sim um exemplo do que não ser. A frase que mais me marcou durante a leitura é “Amar é humano, mas deve-se amar humanamente”, não é isso que Werther faz, nem de longe.
De acordo com o sociólogo francês Émile Durkheim, há três tipos de suicídio: o egoísta, em que a pessoa não vê mais sentido em viver e seu ego social se sobrepõe ao social; o altruísta, em que ele se mata em prol de um bem maior ou de um objetivo pertencente a sua sociedade; e o anômico, que acontece quando as normas sociais deixam de existir gerando o caos e a desordem. O caso de Werther se encaixa no egoísta, já que ele comete o ato derradeiro pois não consegue o amor da mulher que ele ama, mesmo depois de muito tentar e até mesmo se afastar. O livro se divide em duas partes, a primeira, que conta como Werther se apaixona por Lotte e ao final decide se afastar, e a segunda, que narra seu afastamento, seu mal estar por isso, seu retorno e o final em que ele comete o ato. Enquanto na primeira conhecemos um jovem doce e apaixonado, por vezes idealista e romântico demais, na segunda já vemos alguém amargurado por não conseguir o que ele mais deseja na vida a um ponto que até parece que ele começa a perder sua própria sanidade, assim como um personagem louco que ele encontra enquanto passeava (depois ele descobre que esse personagem tinha enlouquecido pois se apaixonou também por Lotte, mas não foi correspondido). Por mais que seja um livro um tanto quanto profundo e antigo, a edição da Antofágica possui uma tradução que deixa a leitura bastante fluida e rápida, sem deixar de lado a eloquência e elegância da narrativa, com ilustrações muito bonitas que retratam bem o ar melancólico da história. Foi uma leitura que gostei bastante de fazer e que terminei em menos de um dia praticamente, acredito que quero reler um dia no futuro para tentar tirar novas interpretações e pontos que não percebi nessa primeira vez.