Queria Estar Lendo 05/07/2024
Resenha: Canção dos Ossos
O fantasma da ópera sáfico é definitivamente uma coisa que eu sempre precisei na minha vida, sendo O fantasma da ópera uma das minhas maiores obsessões da vida. E quando eu comecei a ler Canção dos Ossos já sabia que uma obra magistral era o que me aguardava.
Elena tem o privilégio de fazer parte do Conservatório, mas ela quer mais. Ela almeja fazer com que sua voz a leve até a Primeira Orquestra, o lugar de maior honraria. Onde Prodígios podem mostrar toda a força de suas canções mágicas; porque canções, nesse mundo, são poder. Elas movem os elementos, consertam arquiteturas arruinadas e cicatrizam o que se feriu.
É por essa ambição que Elena é movida até uma voz que fala com ela através dos espelhos; uma voz escondida por uma máscara de ossos e olhos elétricos que promete a ela tudo que quiser, contanto que aceite seguir seus passos. Obedecer seus comandos. E porque a ambição a deixa sedenta, Elena aceita; sem imaginar as consequências que isso vai trazer.
Se você gosta de O Fantasma da Ópera, eu já começo dizendo que esse livro é pra você. É essencial. Se for igual a mim, então, vai dar um estalo no seu hiperfoco e de repente tudo que você quer é sair cantando MASQUERAAAAAADE pela casa.
"- Música é um poder que você deve domar. Ela revela quem realmente somos e nos dá a única liberdade que existe nessa terra salgada e corrompida."
Canção dos Ossos faz uma releitura magnífica das sombras e do horror que espreitam os cantores assombrados pelo fantasma, e traz um excelente arco de corrupção e medo para uma protagonista extremamente carismática.
Você se importa com a Elena desde a primeira página, e por isso é um livro tão intenso. O que ela sente, você sente em dobro; por ela e com ela. O que ela teme, você também teme. O que ela anseia, você anseia junto. Porque ela merece o prestígio, ela merece a glória. Mas qual o preço a ser pago por tudo isso? Afinal de contas, toda magia tem um.
Ela vive uma montanha-russa de emoções e horrores no decorrer da história e é impossível não simpatizar com a personagem. Por sua jornada ser tão inconstante e, principalmente, tão cheia de emoção.
"- Quando você deixa que a coragem a conduza, ao invés de se tolher pelo medo, aí sim encontra o seu verdadeiro potencial."
Elena começa como um cordeirinho e se aproxima das sombras de um lobo com o passar das páginas; e você quer isso, porque esse não é um livro sobre boas moças e heroínas. Canção dos Ossos é um livro sobre a corrupção que o poder oferece, e o quanto você está disposta a sacrificar de si mesma por ele. É uma história sobre o luto bruto e seco, sobre traições e amores que são muito queridos, mas talvez não sejam fortes o suficiente para desbravar a escuridão.
O que a Elena vive é uma ópera completa, com direito ao ápice e aos momentos mais soturnos que uma peça pode oferecer. Quanto mais ela se aproxima das sombras entre as paredes, atrás de espelhos e em catacumbas fantasmagóricas, mais ela se afasta do que é bom e do que pode resgatá-la.
"Você quer o topo e tem medo do que precisa fazer para alcançá-lo?"
Falando em catacumbas, Eco é um deleite. Eu amo personagens femininas que abraçam sua crueldade e que são verdadeiras antagonistas ao que é bom e moral. Ela é lasciva, ela é visceral, ela é má e sabe disso. E é impossível não se apaixonar, independente do tamanho da red flag que ela representa. Porque ela é justamente a sombra do poder; a corrupção dele. Ela é a voz que guia Elena em direção ao abismo, e é uma voz tão bonita.
Os coadjuvantes enchem as páginas com personalidades bem distintas e (cá entre nós) de arrancar os cabelos. Pra mostrar de maneira nua e crua o quanto o Conservatório é horrendo e cruel com quem está lá; as melhores amigas de Elena, Cecília e Margot, começam com sorrisos e se desenvolvem em olhares que não dá pra confiar (mas ainda são o único porto seguro da protagonista).
"O amor e o ódio eram irmãos gêmeos, afinal."
Tem pessoas muito piores do que a crueldade de Eco e essas pessoas se escondem entre figuras de poder, que usam e abusam dele para dobrar os outros a seu bel prazer. Tem a Theodora, que é um raio de sol desbravando todo esse horror, o único ponto de esperança em uma história afogada em perdição.
E tem o Alec, aquele bostinha.
Canção dos Ossos não é um livro sobre beleza e esperança, mas sobre a escuridão em todas as suas formas. E eu admiro muito a autora pelo horror mascarado de beldade que ela apresentou porque, pra mim, O Fantasma da Ópera é sobre isso. O terror escondido em notas musicais bonitas. O pesadelo disfarçado de sonho.
A narrativa da Giu combina tudo isso de maneira belíssima; é poesia, mas também é violência, é luxúria, é paixão, é um raio de sol em meio à penumbra, é gore entre espinhos de uma bela flor.
"Magia era algo bravio, vivo, e qualquer mago que se prestasse sabia que não se deveria sucumbir aos seus desejos mais violentos."
Tem muito mais que eu queria falar sobre esse livro, mas aí eu já me aproximo de spoilers e eu recomendo você ler sem saber muito, porque as surpresas e as reviravoltas te estapeiam quando você menos espera. E o final! Que final BOM!
A edição da Galera Record ficou muito bonita; eu amo amo amo a fonte que usaram pro miolo, é tão gostosinha de ler. E a capa, que é um espetáculo por si só.
Canção dos Ossos é uma melodia macabra e sombria sobre o preço de galgar o estrelato. Sobre uma garota abandonada às sombras que encontra, nelas, uma chance de crescer; sem imaginar que a escuridão cobra um preço muito caro para quem abraça sua ambição.
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