de Paula 28/03/2021
Um homem só tem um destino
Bem, o que dizer sobre essa obra que ainda já não foi dito? Não sei, sinceramente, porque sou suspeita a dizer, considerando que O poderoso chefão está na minha lista de filmes favoritos da vida, mas o livro é brilhante! Como a obra cinematográfica provêm da literária, devo dizer que a fonte é perfeita e uma obra que merece, sem dúvidas, se tornar um dos clássicos da literatura, mesmo sendo "contemporâneo".
A narrativa começa na metade da história, mas isso não tem danos para o leitor, que vai sendo apresentado aos poucos aos personagens principais, assim como a muitos coadjuvantes, todos tão completos e complexos, com diversas falhas e problemas, mas com um código de honra que permeia os "heróis" deste livro. É nos contado sobre a máfia siciliana, uma organização criminosa, da década de 40 e 50, já estabelecida entre as cinco Famílias de New York, que segue seus próprios princípios, sendo sua polícia e justiça diante das circunstâncias que se apresentam. O problema é que existe um mundo externo a tudo isso e as questões se mesclam com a cultura e acontecimentos importantes dessas duas décadas e é isso que acompanhamos durante a leitura.
Don Vito Corleone é um homem adorado e temido por todos, sua amizade e lealdade são latentes, assim como sua fama de mafioso é conhecida até fora do seu meio. Se você oferecer sua amizade, será recompensado, caso contrário, poderá arcar com as consequências. A temática nos faz acreditar que seremos contra o padrinho do início ao fim, mas em dez páginas você estará apaixonado pelo homem que odeia drogas, prostituição e qualquer violência contra crianças. Infelizmente, como um homem da sua época, as mulheres são seres figurantes na grande história dos homens. Com o tempo, você passa a torcer, mesmo sabendo que crimes estão sendo cometidos. Mas, realmente eles estão tão errados, considerando a corrupção da polícia, Justiça e dos políticos? Quem está certo acaba sendo punido pelo poder dos poderosos, que saem incólumes de todas as circunstâncias. Esse é o papel de Don Vito, assim como a sua vida íntima como pai e marido nos é apresentada e passamos a sentir o que todos sentem por ele.
Um homem só tem um destino é a máxima de Vito e a narrativa nos leva a crer, através dos italianos complexos, assim como os demais agregados. Destaque para Michael Corleone, o filho mais novo, que fugia dos negócios da família e pelas circunstâncias, foi colocado a frente de tudo na hora oportuna. Michael é um outro exemplo de homem que querendo combater injustiças, acaba sendo penalizado, muito além do peso que julga os outros. Neste caso, sou muito suspeita, porque o Mike é meu personagem favorito desse livro e da trilogia de filmes do Coppola.
Claro que temos que ler com crítica e amar os mafiosos por este ponto de vista é bonito, considerando a escrita romantizada, mas sabemos que este foi o pontapé inicial para diversas organizações criminosas que reinam no mundo e corrompem todos os traços de integridade do poder, deixando todos reféns a decisões que ultrapassam o controle do povo comum. É preciso se ter atenção que Don Vito e Mike Corleone não são homens reais, os princípios belos e incorruptíveis deles não são os mesmos dos homens que ocuparam suas posições na vida real, que muitas atitudes foram criadas pelos próprios padrinhos para que em hora oportuna eles viessem com as soluções. Também é preciso analisar a violência usada como resposta, como se a humanidade fosse completamente primitiva, seguindo a lei de Talião, o que sabemos, pela própria narrativa, só gera mais violência e problemas que poderiam ser evitados.
É uma ótima leitura, que nos faz navegar no cenário da máfia italiana, New York no pós guerra, Hollywood e suas podridões e depravações, a construção de Las Vegas, jogos de azar, loterias, empresas de fachada, mercado imobiliário, corrupção na polícia, enfim, são tantos enredos que envolvem essa obra que ela se torna muito ampla e por consequência, indispensável para qualquer leitor.
A vida é bela, afinal, mas o respeito pela morte o impedia de filosofar sobre ela.