Jeffrodrigues 26/03/2017Resenha publicada no Leitor Compulsivo“O sábio sabe que ele não sabe – e o prudente respeita o que não controla”
Casas mal-assombradas são um ingrediente comum na literatura de horror. Diversos autores mergulharam fundo nesse universo com clássicos como A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, Hell House, de Richard Matheson, ou A Sentinela, de Jeffrey Konvitz. Obras feitas sob medida para perturbar e tirar o sono dos leitores, mas protegidas pelo fino véu da ficção. (In) Felizmente não podemos dizer o mesmo de Amityville. O livro de Jay Anson foi apresentado como sendo baseado em acontecimentos reais. Um livro-reportagem sobre fatos que chocaram e perturbaram pesquisadores, religiosos e autoridades, além de diversas outras pessoas ao redor do mundo.
A história é pra lá de conhecida do público após tantas reportagens e adaptações para o cinema. A família Lutz, George e Kathleen, compram por um excelente preço a casa situada no número 112 da Ocean Avenue, no bairro de Amityville, subúrbio de Nova York. Anteriormente, o local havia sido palco de um sangrento assassinato em que Ronald DeFeo havia matado os pais e os irmãos e, em sua defesa, alegara ter sido influenciado por forças malignas. Mesmo ciente dos fatos os Lutz não se incomodaram e recomeçaram sua vida na casa dos sonhos. Aos poucos acontecimentos estranhos começam a perturbar a paz do casal e de seus três filhos. Barulhos, manchas nas paredes, portas que se abrem, a filha mais nova conversando com um amigo imaginário.... Tudo num crescente até que, sentindo-se sob risco de morte, eles fogem da casa às pressas levando consigo somente a roupa do corpo.
Os fatos vivenciados pelos Lutz são narrados numa linguagem quase jornalística de tão objetiva na obra de Jay Anson. Entrevistas e conversas com os envolvidos resultaram num livro que desde o começo deixa claro relatar a realidade. Este é o ponto que faz toda a diferença na forma como somos fisgados durante a leitura. Abrir o livro e a todo momento ter na cabeça que aquilo aconteceu de verdade (ou pode ter acontecido, para os mais céticos), acaba por nos fazer ficar mais atentos aos barulhos ao nosso redor.
Outro ponto a favor é o envolvimento do padre Mancuso, alguém que mesmo à distância, parece ter sofrido ataques da força que dominava Amityville. Depoimentos de membros da Igreja, como no próprio prefácio da obra, contribuem muito para o atestado de “verdade” da história. Mas esse mesmo fator positivo acaba se tornando maçante com descrições demasiadas das intempéries vividas pelo sacerdote em sua residência paroquial.
Independente de acreditarmos ou não na veracidade dos fatos, é incontestável a qualidade da obra de Anson para causar terror, pavor, calafrios, ou o simples bom e velho medo. Diversas passagens provocam desconforto e acabam nos fazendo imaginar como seria viver isso no cotidiano. Afinal, Amityville narra 28 dias “normais” na vida de uma família: o ato de acordar, tomar café, fazer refeições, limpar a casa, cuidar dos filhos, cuidar do cão, ver televisão, dormir. Tudo isso sendo perturbado por coisas inexplicáveis e, às vezes, ameaçadoras.
A forma como você pretende ler este livro certamente vai influenciar na sua experiência. Aos fãs da literatura de terror, Amityville tem ingredientes de sobra para agradar, independente de acreditarem ou não na história. Se você estiver buscando furos para contestar a veracidade, vai encontra-los, e a mágica do medo pode ser perder um pouco ou totalmente. E se por acaso você for um curioso literário, bom, esteja por sua conta e risco.
Verdadeira ou falsa, a história narrada neste livro é capaz de dar arrepios na espinha. Só isso já vale a leitura. Se ao final você dormir tranquilamente com a luz apagada, considere-se vencedor de mais uma etapa desse fascinante universo do terror.
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