Sarah Amado 23/10/2022
Uma tragédia cômica ou uma comédia trágica?
É com muita dor que venho aqui escrever essa resenha após menos de 24h do término da leitura desta obra pois ainda não fui capaz de superar o que li.
O Corcunda de Notre Dame é uma obra prima e não há como argumentar contra isso. Estamos falando de um livro publicado em 1831 e, mesmo tão antigo, aborda assuntos tão modernos com um ponto de vista avançado para a época e com um humor SENSACIONAL. Há críticas ao sistema capitalista de classes sociais, sobre capacitismo, contra a igreja da idade média (séc XV), fala sobre violência sexual, o poder do homem sobre o corpo da mulher e, no geral, critica a sociedade parisiense e sua ordem judicial, econômica e social.
Eu entendo que muitos podem argumentar que a leitura não é tão fluída como gostariam devido aos vários capítulos sobre a arquitetura, contumes e pessoas que pouco importam para a trama principal. Eu mesma parei de ler na metade, após a finalização de um dos 12 livros que dividem a obra, para poder continuar. No entando, eu acredito que faz parte da experiência conhecer aquela Paris. O autor se preocupa em expõr a arquitetura, os costumes locais. Eu aprendi tanto sobre a França da idade média por meio de explicações de um francês que tem lugar de fala pra trazer questões da realidade da época. Mesmo que as vezes seja um pouco cansativo, acredito que são detalhes que enriquecem a experiência por ser uma verdadeira aula de história em formato de romance e, no fim, a leitura não é tão difícil como afirmam.
Eu gostei muito também de como a história é guiada e organizada nos transportando entre a realidade de seis personagens que se interligam ao final. Sabe a teoria do "Efeito Borboleta"? Foi exatamente assim que eu me senti com o andar do desfecho da história. Se um pequeno detalhe na história de qualquer um dos personagens apresentados, mesmo um coadjuvante, fosse diferente, tudo teria se dado de outra forma. (Spoiler até o fim do parágrafo) ex: se o juiz que condenou o Quasímodo não estivesse com raiva naquele dia, se a Esmeralda não tivesse chamado o Ph?bus, se a Esmeralda não tivesse salvado o poeta, se Frollo nunca tivesse ouvido falar de Ph?bus, se Quasímodo tivesse fugido com a Esmeralda ao invés de proteger a catedral....
Confesso que não esperava pelo final proposto e li as últimas páginas ainda na esperança de um final feliz, pedindo para que fosse tudo uma ilusão. Chorei... chorei muito! Se você for ler, não esqueça que Victor Hugo trata de realismo, e a vida real é cruel e é injusta.
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?? Possíveis Gatilhos: Violência sexual, capacitismo, tortura, enforcamento, sequestro, dependência emocional, assassinato, alcoolismo.
Idade que eu recomendaria para leitura: +20 (linguagem complexa e violência)