spoiler visualizarSeverus. 26/04/2022
Romance Roda Gigante
O corcunda de Notre Dame
O corcunda de Notre Dame, certamente, é um dos maiores clássicos da literatura francesa de todos os tempos. A obra, escrita por Victor Hugo, se passa numa Paris, em plena Idade Média, e narra uma parte da trajetória de pelo menos uns 5 personagens, sendo eles: Claude Frollo – O Arquidiácono, Quasímodo – O corcunda, Esmeralda – A cigana, Phoebus – O cavaleiro e Gringoire – O filosofo. A partir disso, o livro é marcado por ser repleto de reviravoltas, dramas, romances, tragédias e gira em torno da paixão que tais personagens supracitados sentem pela adorável cigana Esmeralda, pobre moça, que foi sequestrada da mãe quando tinha apenas meses de vida e é criada por ciganas, suas “amas de leite”. Além disso, o romance também é carregado de histórias da França, sobretudo da arquitetura francesa, a qual, percebe-se, Victor Hugo ser um esplendido admirador, dedicando à sua obra capítulos e trechos somente para ilustrar essa paixão, a fim de valorizar os monumentos góticos.
O livro é composto de altos e baixos. O primeiro ponto baixo que posso citar é a demora da narrativa em assuntos distintos do romance. Não se trata de dizer que narrativas longas sejam chatas, mas sim de algo que já foi mencionado – o fato de Victor Hugo abordar muito sobre a história da França. Apesar de saber da importância do livro para a preservação e valorização dos patrimônios góticos franceses – ponto alto da obra, inclusive – não há somente longos trechos, como também capítulos inteiros dedicados exclusivamente sobre o assunto, pondo à margem o próprio romance. Por consequência disso, o que quero dizer é que a obra pode se tornar um tanto enfadonha para o leitor que procura apenas uma distração agradável e rápida da vida cotidiana e decide encontrar isso lendo um romance clássico, por exemplo, pois para chegar na história que buscamos ele passa antes por “toda” história de Paris. Outro ponto que deixa a desejar é o próprio romantismo insosso. Chega a incomodar, exemplificando, o amor cego de Esmeraldo por Phoebus, um Cavaleiro, no mínimo, desprezível. Sei que isso é um ponto de vista duro e até anacrônico, tendo em vista tratar-se de um romance da primeira metade do século XIX, no qual os ideais de amor, masculinidade e feminilidade da época são totalmente distintos do nosso, mas não deixa de ser uma paixão imatura e rasa encoberta por uma escrita glamourosa, que, aliás, é outro ponto forte a ser abordado. Apesar dos pontos baixos citados, não tem como discordar da excelência como escritor que Victor Hugo possui – longe de mim isso, afinal, não é à toa que ele é um dos maiores escritores do mundo. O modo como a história é construída traduz bem isso, pois é muito fenomenal os jogos de linguagem que o autor utiliza, que não só deixa o livro mais gostoso de se ler, como insere o leitor numa atmosfera sombria, misteriosa e doce. Para sintetizar, a impressão que o livro passa é que as partes boas são realmente muito legais, enquanto as chatas, muito chatas – tanto é que nem a escrita salva. Uma espécie de roda gigante, uma hora estamos nas alturas, outra hora lá em baixo.
Por fim, o leitor que busca mergulhar em uma história de romance complexa e abstrata, talvez se decepcione com a profundidade que a obra possui nesse sentido. Por outro lado, há sim leitores que possam gostar de como o romance foi construído e tenha se amolecido com o decorrer dos fatos narrados, pois, afinal, e isso não tem como negar – a narrativa é linda. Tudo vai depender do momento em que o leitor estiver vivendo, das suas experiências literárias anteriores, do que ele busca e da expectativa que ele põe no livro. São X fatores que te influenciam gostar ou não de uma obra.