Mari 22/01/2022
S. Bernardo é um romance que conta a história de ascensão e decadência de Paulo Honório, contada pelo próprio na sua linguagem rude e direta, comum para um homem do interior de Alagoas que não teve acesso à educação e nem lhe dava valor. Por isso, embora o objetivo do autor tenha sido o de escrever com a linguagem simples do povo, o livro acaba ficando de difícil leitura para o leitor do século XXI, pois o Brasil é um país muito diverso, em que em cada estado se fala de um jeito diferente do outro e onde as gírias caem em desuso quase tão rapidamente quanto começaram a ser usadas. Mas, depois de um tempo o leitor se acostuma com a escrita e a leitura passa a fluir bem rápido.
Paulo Honório é um homem extremamente ambicioso, que tenta de tudo para alcançar prestígio social. Assim, com sua lábia e cometendo alguns crimes, ele consegue ascender socialmente de um simples trabalhador até se tornar um rico proprietário de terras, que mantém a fidelidade de seus empregados por meio da força. Primeiro, ele almeja possuir a propriedade chamada "São Bernardo", o que consegue tramando algumas armadilhas para o proprietário. Esse se torna o grande êxito de sua vida, tanto que a propriedade dá nome ao livro. Porém, um dia, ele percebe que todo o seu trabalho e esforço para enriquecer com suas terras de nada adiantariam se não houvesse ninguém para herdar aquilo, então, ele decide se casar. É a partir daí que a história muda totalmente de ritmo, porque possuir só bens materiais não é suficiente para Paulo Honório, ele passa a desejar também possuir pessoas para saciar sua ambição, o que acaba por levá-lo à loucura. Sendo que, sua ambição nunca é saciada, já que todos os seus empreendimentos acabam dando errado: seu casamento fracassa em poucos anos; o herdeiro fruto deste matrimônio é uma criança frágil que não recebe amor de ninguém, nem do pai e nem da mãe e seu maior orgulho, "São Bernardo", também acaba caindo em desgraça com a Grande Depressão e a Revolução de 30 (brilhantemente retratada no livro), que foram determinantes para o declínio das oligarquias rurais, representadas no romance por Paulo Honório. Assim, ele percebe que chegou à velhice sem ter tido de fato nenhum êxito, apesar de tanto esforço, e decide escrever um livro de sua vida, meio que para ver aonde errou. Ele, que sempre zombou dos livros, da literatura, dos intelectuais e da educação, estava escrevendo um livro. E até essa empreitada se mostra malsucedida, pois sua vida foi lotada de erros e ele não mudaria nenhum deles, pois é incapaz de mudar.
Dessa forma, Graciliano Ramos utiliza a história de Paulo Honório para fazer um retrato social e político do Brasil nos anos 30, criticar a aspereza em que viviam as pessoas no interior, com a qual tratavam as outras pessoas e com a qual eram tratadas, além de deixar evidente a desigualdade social entre proprietários de terra e seus empregados e de fazer muitas reflexões sobre a arte de escrever.