kiki.marino 15/05/2021
O Seu Paulo Honório
Primeiro sempre pensei que "São Bernardo " fosse um camalhaco,o que me deixou surpresa de não o ser, assim como é um livro fácil e envolvente de ler, mesmo com o uso de linguagem regional pelo Paulo Honório, o narrador destas memórias.
Que começa já no fim,digo isso porque me o narrador me parece um morto,embora esteja bem vivo, de memórias,de dor ,desespero, de uma vida "inútil" de trabalho, solitária e de lembranças de uma certa Madalena .
Paulo Honório, de pouca instrução, planeja escrever um livro, mas na prática é bem mais difícil, convida alguns amigos e também não fica satisfeito, com as firulagens que pouco refletem a realidade da sua vida e pessoa.
Deste ponto começa a narração, intensa e concisa de sua infância pobre, de seus vários trabalhos para sobreviver e sair da miseria e sua obstinação cega,violência e gananciosa de ser dono de terras , rico e auto suficiente. Assim como a absorção e expurgacao de memórias, de alucinações, silêncios e conflito interior para escrever a "verdade" neste livro.
Um homem em decadência, feito de vazio,dor,arrependimento do sofrimento que causou, que descreve assim mesmo como um monstro e incapaz de mudar sua natureza. Que me fez lembrar outro personagem-primo na literatura, o rústico e obstinado Bjartur, de Gente Independente de Halldor Laxness, este ainda teve uma "rosa " em sua vida no fim, Paulo Honório ,absolutamente nada.
Posso dizer que gosto mais de "São Bernardo " do que Vidas Secas. O Graciliano conseguiu escrever uma estória simples, com elegância e pungencia , o que me causou maior empatia e interesse no contexto politico/social no Nordeste dos anos 30 ,de um indivíduo alheio e indiferente à tudo e à todos ao seu redor, algo contraditório com às suas origens e vida dura na pobreza.
Foi um livro que me causou impacto só ao término da leitura e pensar por muito tempo no protagonista...