spoiler visualizarMaharet Sys 05/09/2023
Intenso.
Vamos lá. Essa resenha vai estar dividida na parte sobre a obra e sobre o material que tive em mãos.
Terminei de ler no dia 30/08 (levei pouco menos de um mês), mas só agora, dia 05, digeri o suficiente para escrever a resenha.
Começando com o material...
Li pela L&PM, na edição de bolso, e definitivamente não aconselho. Não pela tradução ou pela qualidade, mas porque é um livro extenso e o fato de ter letras pequenas - edição de bolso, oras! - torna muito cansativo.
Para alguém que conhece a obra, acho que esse não seria um problema. Mas para o primeiro contato, acho meio paia...É um ótimo livro.. vale o investimento numa edição mais trabalhada.
Quanto a tradução, o trabalho foi muito bem feito. Não sei dizer se é a melhor do mundo, mas não me senti perdida, nem encontrei erros grotescos de escrita.
Se for a única edição que tiver vai ser ruim? Não. Mas se tiver a oportunidade de ter outra, faz isso.
Quanto a obra...
Ela é dividida por parte - sete, se não me engano - e é bem marcada pelo niilismo russo, ou seja, os valores são criados pelos humanos e, portanto, são mutáveis.
Na história, vemos Raskolhnikov, um estudante preso na miséria que tem a teoria de que alguns seres humanos, os ditos extraordinários, tem o direito de cometer crimes e que neles a lei não se aplica (o negócio é mais trabalhado, mas tô com preguicinha de explicar). Para provar a teoria e acreditando ser um desses "seres excepcionais", ele comete o assassinato de duas mulheres.
Não muito depois, ele se vê atormentado pela culpa, o que prova que ele é um ser humano comum, nada extraordinário, já que pessoas dessa teoria dele se vêem isentas deste sentimento. É através desse ocorrido que o livro se desenrola e que vemos as relações acontecerem, sejam as familiares, com a Dunia (irmã) e a mãe dele, seja de amizades, com o Razumikin ou inimizades, como o Porfíri (que não sei ao certo se chega a ser inimigo) e o Lújin.
Dostoiévski trabalha com maestria em seus personagens a complexidade humana, a culpa, o arrependimento e a influência da sociedade nos seres. Acho que não há um personagem sequer que seja raso ou que tenha só um traço de personalidade.
Com a mesma intensidade, ele descreve todos os ambientes possíveis. Então é um livro beeeem cansativo para quem não está acostumado.
Durante a leitura é possível ver também a questão religiosa, especialmente com a comparação de Lázaro com Raskolhnikov (ele estava morto espiritualmente, enterrado vivo e vestido em trapos, como um morto) e Sônia, filha de um conhecido falecido do Raskolhnikov e futuro par romântico dele.
Ela é a personificação da fé e, me arrisco a dizer, da própria Maria Madalena, prostituta seguidora de Cristo (não comparando Raskolhnikov com Jesus, claro). Digo isso porque no momento que ele foi se entregar, ela seguiu ele como Madalena seguiu Cristo. Depois, na prisão, ela também esteve presente, nunca abandonando ele, indo além ainda: ela é vista como santa pelos outros presos.
Acho que junto do melhor amigo dele, Razumikin, ela foi minha personagem predileta.
Ao longo de toda a história, senti uma antipatia muito grande pelo protagonista. Tive vontade, muitas vezes, de enfiar a mão na cara dele pela forma que ele agia com todos. E o final foi bem inesperado (eu imaginei que ele fosse se matar, e não alcançar a redenção).
Com a mesma intensidade de meter a mão na cara dele, eu fiquei contente com o fim da Dunia e do Razumikin. Eu torci desde o início para eles ficarem juntos, porque achei ele um nenê. Quanto a mãe dele... Eu chorei muito com a forma que ela terminou... Era uma mulher muito amorosa...
Por fim, sobre a minha experiência.
Ela foi muito boa. Já fazia um tempo que eu não passava tanto tempo com um livro, então não estava tão acostumada. Foi uma obra que eu demorei 23 dias para acabar lendo DIARIAMENTE. Não sei se foi a melhor escolha pra conhecer Dostoievski, mas não mudaria nada.
Super recomendo.