spoiler visualizarJH 16/09/2012
Amores e dores na vida sertaneja
O sertão é um lugar onde o homem se conecta diretamente com a natureza; ela é motivo de arrebatamento e paixão, e inspira a narrativa de Guimarães Rosa. Mas a natureza, para o sertanejo, é também algo a ser combatido. Afinal, o homem do campo não só convive com os rios, as árvores, os pássaros, os animais... Ele também utiliza-os como base de sua sobrevivência; é dali que o sertanejo retira seu alimento, sua saúde, seu sustento financeiro.
Na história de Manuelzão, travamos contato com este homem marcado pela vida no sertão, tentando povoar a Samarra, um pedaço de chão em Minas Gerais no qual deve estabelecer uma fazenda. Manuelzão é um homem do trabalho, e o trabalho é a medida para todas as suas constantes reflexões: é seu guia moral, pelo qual julga o caráter das pessoas, julga os acontecimentos ao seu redor (como a festividade e o lazer), julga o prazer e a realização pessoal. E é por esta característica laboriosa, que compreendemos as dificuldades da vida no interior; embora o sertanejo Manuelzão ame o ambiente do campo e tudo aquilo que nele constrói por suas mãos e esforço, sofre pelas agruras da vida bucólica e pela constante ameaça da pobreza, da qual tanto quer se livrar. (Vale lembrar que Manuelzão tem a postura de administrador e "rei" da propriedade e do população local, mas não passa de um empregado do dono daquelas terras.)
Já a história de Miguilim é mais cativante, pois a percepção da vida árdua que sua família leva é amenizada pela imaginação e pela ignorância infantil, pelo deslumbramento e paixão do protagonista pelas coisas simples. Por tanto é, que tudo muda na história quando da morte de Dito, seu amado irmão. Este fato serve como símbolo do fim da infância e o início da sua vida de adulto. Até esse momento, Miguilim nada entendia sobre os problemas que o cercavam; como exemplos, o adultério da mãe e o excessivo autoritarismo do pai, regido por suas frustrações e melancolia. É neste contexto que Dito, tão mais perceptivo, servia como uma espécie de guia para o irmão, e, quando veio a falecer, isto resultou na amargura e na raiva que Miguilim passou a adotar como adulto, somadas às suas novas obrigações dentro do núcleo familiar.