spoiler visualizarRick Shandler 03/06/2022
Feliz Ano Novo - Rubem Fonseca
O que nos faz humanos? O que define nossa humanidade? Nos tornamos mais humanos quando nos aproximamos ou quando nos afastamos dos nossos instintos animais? Rubem Fonseca, longe de responder essas perguntas, nos faz pensar sobre elas. Feliz ano novo e os outros contos contidos nesse livro nos mostram o lado obscuro do homem urbano.
A violência perpassa cada um dos contos. Vemos suas múltiplas facetas em um sociedade urbana que se vê tão evoluída. Mal sabem eles que o caos ainda reina por maior o esforço feito em marginaliza-lo. É a surpresa da elite carioca ao ser pregada na parede por um tiro.
Os personagens que Rubem Fonseca traz em seus contos são extremamente impactantes. Violentos e grotescos, eles rompem com as regras impostas por nossa sociedade. Facilmente os identificamos como primitivos, como animais que sedem aos seus instintos sanguinários. Mas, é mais que isso. A violência praticada pelos personagens de Rubem Fonseca não é uma violência animal provocada por um instinto de sobrevivência, seja por fome, seja por medo, seja por defesa. É uma violência pensada, raciocinada, humana.
Quando Zequinha gruda um bacana na porta com um tiro de doze, ele não está respondendo aos seus instintos animalescos. Há ali um repúdio, um ódio, um nojo, uma revolta ao outro lado da balança da desigualdade social. Quando o famoso motorista do Jaguar preto sai para seus passeios noturnos, ele mata apenas por prazer, para extravasar o estresse de sua rotina bem humana, ele não pretende se alimentar de suas vítimas. Até os que se alimentam de suas vítimas, como no conto Nau Catrineta, não o fazem por necessidade, mas por tradição.
Dessa forma, cada personagem de Rubem Fonseca que nos espanta por suas estranhezas se mostra muito humano. Até os não tão violentos, como o jogador preocupado com a espessura de seu cuspe, o escritor mais preocupado com a repercussão em sua carreira da morte de sua parceira do que com sua própria parceira, ou os competidores do campeonato de conjunção carnal. Cada um, a sua maneira, extrapola suas ?qualidades? humanas e nos comprova que somos o mais complicado e perigoso de todos animais.