Levine 13/08/2021
"Ideias são a prova de balas"
A história em quadrinhos V de Vingança (V for Vendetta) é uma poderosa e aterradora história sobre a perda de liberdade e cidadania em um mundo totalitário imaginário que evoca, a todo tempo, elementos da nossa própria realidade.
V de Vingança, dos ingleses Alan Moore e David Lloyd, foi publicado em dez edições, de março de 1982 a maio de 1989. Sua publicação ocorreu sob o governo da primeira ministra Margaret Thatcher, marcado por uma política autoritária e conservadora. Tempos em que o próprio Estado disseminava através da mídia o temor de uma guerra nuclear, em um cenário de profundas incertezas sobre o futuro.
Temas como a homossexualidade, ascensão de minorias, poder policial e uma infinidade de assuntos sensíveis à época foram retratados nessa história.
A história se passa em uma Inglaterra do futuro, na década de 90, após uma terceira guerra mundial, assolada pelo caos. Um governo autoritário surge para estabelecer a ordem, através de manipulações políticas e ideológicas de um partido fascista, que caça direitos civis e impõe uma forte censura nos meios de comunicações, reprimindo violentamente os seus opositores.
Assim como na obra de George Orwell, 1984, em V de Vingança o Estado vigia e persegue os cidadãos. Os instrumentos da exceção são variados: toques de recolher, notícias proibidas, censura generalizada, agentes do Estado servindo como ?olhos?, ?ouvidos?, ?narizes? e ?dedos? de um governo fascista controlador. Na propaganda oficial, estampada pelos muros da cidade onde se passa a trama, lê-se o seguinte: ?Força através da pureza; pureza através da fé?. A força do Estado é colocada a serviço de uma só verdade, a verdade do governo. Toda divergência é submetida a um processo violento de purificação. Aqueles que se opunham ao governo eram enviados ao que na história são chamados de campos de readaptação, onde eram interrogados, torturados e serviam de cobaias para experimentos e construção de armas biológicas.
O personagem principal da trama é V, uma figura que se apresenta sempre mascarada, sem que seu verdadeiro nome, gênero ou qualquer característica física sejam revelados. Porém pra todo esse mistério, tem um grande propósito no final.
De todos os personagens de quadradinhos. V, para mim é o melhor de todos.
O fato de não sabermos quem é V é essencial para a trama e o mais fascinante é que apenas pela mídia do quadrinho que é possível colocar este personagem desta maneira, sem definições, um ser completamente misterioso, apenas uma ideia.
Após uma guerra nuclear, Adam Susan, o ditador no enredo, surge como uma esperança de retorno à vida ?normal?. Porém, a partir do momento que o poder soberano está nas mãos do ditador, ele revela seu caráter conservador e autoritário, normalizando a exceção na forma de um Estado totalitário e excludente.
A história está permeada por elementos simbólicos e circunstâncias que fornecem um excelente material de reflexão sobre conceitos políticos: de um lado a composição de um Estado de exceção na forma de um governo autoritário e ditatorial, de outra a luta pela liberdade travada por um anti-herói que não vê outro caminho senão o do terrorismo e o da anarquia.
É dentro dessa crítica explícita ao governo que a imagem de V surge como símbolo de luta contra os Estados e o sistema político.