Paty 31/08/2020"[...] É pra gente que não desliga na hora do noticiário" (MOORE, 2018, p.7).Deveras, não é.
Eu senti o desejo de ler/ter essa HQ (ou graphic novel, como preferir, pra mim é praticamente o mesmo e sim, estou ciente das "diferenças" entre um e outro) por causa do filme. Assisti o filme quando eu era bem novinha, eu não devia ter mais que 12 anos, e eu não entendia, realmente, o que acontecia e as motivações de cada ação. Mas eu amei o filme. Eu senti uma curiosa fixação pela história, pelo personagem, pelas ações e suas respectivas motivações, todas coisas que eu não compreendia; senti-me fascinada por tudo. Eu não entendia nem porquê eu gostei tanto, mas alimentei esse sentimento por anos (ainda alimento) e, então, eu me deparei com a oportunidade de adquirir essa obra de arte, integral (Perdoe a introdução longa, eu precisava contextualizar).
Posso dizer que amei encontrar as cenas do filme nos traços adoravelmente realistas - e, ainda assim, mágicos de alguma forma - de Lloyd. Mas amei ainda mais as diferenças entre um e outro. Sou apaixonada pelo filme e nutro grandessíssimo carinho por ele, e agora nutro um carinho diferente pelos quadrinhos porque nele há coisas que não é possível entender no filme. Eu me senti ensinada, sabe? Aprendi um pouco mais sobre política, aprendi um pouco mais sobre anarquia (e isso não quer dizer que eu sairei por aí explodindo prédios, embora eu tenha vontade), aprendi um pouco mais sobre o que é ser "livre". É uma aula, mas não chega nem perto de ser enfadonha. Não avanço nisso porque não quero dar nenhum spoiler.
Outra coisa que posso dizer é que nessa história a verdade é dita. Não a verdade como eu a percebo, ou como você, que por (des)ventura lê essa resenha, percebe a verdade. Para mim, a verdade tem várias faces, e Moore mostrou a face que ele vê. Isso é incrível, é a parte mais incrível das distopias (sim, eu considero essa obra como sendo distópica). Incrível, porém essencialmente assustadora. Pensar que uma determinada perspectiva negativa está ao alcance das mãos é assustador; uma previsão, se me permite a palavra, que mostra uma realidade cruel que, contudo, está mais próxima que qualquer outra, é assustador. Pode me dar o livro de Lovecraft que for, não vou realmente sentir medo, não vou remoer as criaturas inomináveis do terror antes de dormir. Antes de pregar os olhos, eu vou me assombrar com as mil e uma possibilidades temerárias e horríveis que eu leio em livros distópicos, vou me virar do avesso pensando em como essas obras são tão atuais e como o "depois" pode vir a piorar. É isso que me assusta nessas obras. Obras como V de vingança (Mas é um sustinho saudável, calma).
A terceira coisa que posso dizer é que a arte é incrível, é praticamente impecável. Eu conheço pouquíssimos artistas de quadrinhos, mas como esse é meu primeiro contato com esse tipo de produção na vida, sinto-me justificada. A questão é: não conheço muitos artistas, mas não consigo imaginar essa história com outra arte gráfica. As habilidades de ambos uniram-se muito bem, e não falo só porque o próprio Moore comentou que não existiria V se não fossem os dois trabalhando juntos (essa é uma citação indireta), mas é sobre como eu me senti lendo essa belezinha.
Leia. Leia sim, e sabendo que, mesmo escrito lá na década de 80, ela é mais atual do que parece, mais até do que o filme mostra. A adaptação cinematográfica que fizeram ficou impecável, ficou poética, ficou linda. Teve uma solução (?). O quadrinho já não, pelo menos não como EU esperava que seria. Mas leia sim. Talvez você não goste, a probabilidade não é nula (embora para mim, não gostar dessa obra maravilhosa beire à sandice). Só leia.
Obrigada.