Mariana 08/07/2011Precisamos Falar Sobre O KevinResenha Retirada do blog:
http://cultmeplease.blogspot.com/2011/03/precisamos-falar-sobre-kevin.html
Pois é caros leitores, estava demorando a eu querer dar uma de culta de novo e falar de livro, mas esse livro merece um post, não que um post aqui seja um menção honrosa, mas o que indico aqui significa, ou significou alguma coisa para mim.
#Livre de grandes spoilers
Precisamos falar sobre Kevin é um livro bem intenso, é impossível não se colocar no lugar de Eva Khatchadourian, uma mulher forte, inteligente e de personalidade, criada pela autora Lionel Shriver, para fazer parte e depois, por meio de cartas que ela escreve para Franklin, o pai de Kevin, revisar pequenos e grandes acontecimentos que nos fazem entrar em sua cabeça, e ver através de seus olhos cada memória familiar descrita com detalhes, e as pistas que vão sendo acumuladas.
Em resumo, o livro conta a história fictícia de Kevin Khatchadourian que ainda na adolescência comete uma chacina em seu colégio, história não tão ficitícia assim na realidade dos Estados Unidos, país cenário de um número notável de acontecimentos parecidos, muitos deles citados no livro. Aliás, um dos inúmeros aspectos interessantes do livro, é a utilização de manchetes de notícias reais, analisadas pela personagem e discutidas na dia-a-dia da família Khatchadourian.
Talvez por ser narrada em primeira pessoa, história parece tão real, até fui pesquisar para saber se não era verdadeira, mesmo após uma busca sem resultados por um “baseado em fatos reais” pelo livro, e assim acabei contaminada por dois grandes Spoilers, um que até já imaginava, outro que eu não sabia nem do precedente..de qualquer forma, spoilers sucks.
A mãe de Kevin volta no tempo desde antes do nascimento dele, do momento em que começou a pensar na idéia de ter um filho, se questionando, procurando respostas para uma série de porquês, que a fatídica quinta-feira trouxe para sua vida, que já não consegue chamar de vida depois daquele dia, mas leva tudo com uma conformidade plausível pela culpa indevida, ou não, que sente. A cada capítulo, Eva Khatchadourian analisa seu país, com seu conhecimento antropológico adquirido em campo em cada uma de suas viagens pelo mundo e critica bastante a sociedade americana e sua suposta e superficial perfeição, principalmente as classes mais favorecidas. Além das obrigações e responsabilidades de criar uma família, Eva também fala muito de ser mãe.
A narradora fala de tudo com uma honestidade tão grande, fala de coisas que as pessoas não gostam de admitir nem para si mesmas, pensamentos considerados absurdos num mundo tão pragmático. É muitas vezes irônica e consegue rir da própria desgraça. O começo do livro, confesso, é um pouquinho devagar, fico feliz de ter continuado, e fui muito bem recompensada. Falei como se tivesse sido um grande sacrifício, não foi não. Chega uma hora em que cronologicamente, nós sabemos que a quinta-feira está chegando e essa graduação até o clímax foi me deixando sem dedos. Não paro de morder a pelinha em volta da unha. Quando falo da intensidade do livro, não é tanto pela história perturbadora, o que acontece é que chega uma hora em que é difícil parar de ler para fazer outras coisas, e quando se para, é difícil não pensar na história e fica aquela “aura”, como diz minha querida mãemãe, não sei explicar.
Não pude parar até terminar, li no metrô, li no trabalho, li andando, e terminei num rápido, para mim 3 semanas num livro de quase 500 páginas é bem rápido, eu sou muito lerda para ler. Para terem uma idéia do andamento da história, foi mais ou menos assim: li a primeira metade em duas semanas e a outra em uma.
A cada discussão, e conflito, para mim foi impossível não ficar do lado de Eva, por ela ser a narradora e fazer plausível cada observação, mas não é como Dom Casmurro, já que no final das contas, mesmo que ela talvez tenha enxergado demais, exagerado em alguma pista do caráter duvidoso de Kevin, ninguém pode negar os fatos, que comprovam o desvio do garoto.
É eu falei em lados, mas na verdade, assim como na vida, em “Precisamos Falar Sobre Kevin”, não existem vilões e mocinhos definidos. É estranho, mas não consegui odiar Kevin, tive raiva, às vezes, espantosamente, é até possível entendê-lo, no final pude até sentir uma certa compaixão, vai ver eu tenho problema. Algumas vezes tive raiva de Franklin, sempre cego para os sinais de sociopatia de Kevin. E da própria Eva por falar demais. Há momentos de raiva, momentos emocionantes, momentos de humor, a verdade é que me apeguei a essa família totalmente disfuncional e assim como Eva, imagino com os vários “e ses” da vida, se as coisas não poderiam ter sido diferentes.
Li algumas notícias de uma adaptação para o cinema, parece que sai ainda esse ano. #dedos cruzado