rafaelcgodoy 23/07/2021
Literatura de alto calibre
Esse livro causa tanta ideia que às vezes os pensamentos ficam nadando num caos absurdo. E eu acho que essa era uma das intenções de Ferréz, cara que agora tenho como uma das minhas inspirações. A escrita é direta, sem firula, com a linguagem precisa. Digna de uma obra que é destaque até depois de pouco mais de vinte anos de sua primeira publicação. Mostrou a que veio.
O livro narra a história de Rael, que vive na periferia de São Paulo, mais precisamente no Capão Redondo. Mas também conta a história de um povo esquecido, da sinfonia da desgraça que toca em vários lugares do Brasil, que dança há muito tempo no ritmo da desigualdade. A narrativa tem batida, tem boombap, tem periferia crua. Rael se entristece com a realidade, se afoga nas leituras, se apaixona e fica puto de ódio ao ver seus iguais morrendo, caindo no crime ou nas drogas. Isso porque, muitas vezes, não há mais opção. É a máquina de fazer vilão rodando suas engrenagens.
Esse livro abre a cabeça como um tiro. É uma ideia só, num calibre pesado. Quem tá à pampa acaba se assustando, porque a realidade bate forte, sem pedir licença e ainda usa farda. Ferréz aqui tem recado, com endereço e tudo. Sofreu consequências, mas nunca abaixou a cabeça, como diz Marcelino Freire no posfácio. Enfim, uma leitura extremamente necessária, que eu já deveria ter feito há muito tempo. Conheça Capão Pecado. Conheça Ferréz.