Coisas de Mineira 30/08/2020
Quando a Luz Apaga é o segundo livro do autor brasileiro Gustavo Ávila. Desde que li O Sorriso da Hiena há alguns anos estou na expectativa de uma nova obra sua. A escrita do autor é muito agradável (pois escreve o tipo de literatura que mais gosto de ler). Digo isso por ser uma consumidora exagerada do thriller, do policial, da literatura que desafia as regras do certo e o errado. E uma das coisas que Ávila faz com maestria, é colocar seu leitor para pensar.
Em O Sorriso da Hiena, o autor me fez pensar muito enquanto profissional da Psicologia. A analisar a história e a me colocar no lugar do psicólogo envolvido em um caso muito cabeludo. Vou deixar o link para essa resenha no corpo desse texto. Inesperadamente, em Quando a Luz Apaga, Gustavo Ávila mexeu com meu brio enquanto ser humano… Colocou-me para pensar a respeito de situações que a gente acha que não tem que se envolver, ou que não é da nossa conta.
Como sempre, a escrita do Ávila é para nos deixar perplexos, é para incomodar e para simplesmente nos tirar do comodismo. Ele está inserido na nossa realidade, e como autor, pode descrever situações muito pertinentes de terem acontecido em solo brasileiro. Esse é um dos maiores motivos de eu virar fã desse cara, e do seu personagem principal, o detetive Artur Veiga. Como mãe de uma criança no espectro autista, Artur é um dos meus personagens preferidos da literatura. Ele também está no espectro.
“Só a dor deixa as pessoas sinceras. Nem o amor tem tal poder. Porque a alegria disfarça as coisas da vida. A dor escancara a verdade.”
Claramente consegui perceber minha reação perante as duas obras. Enquanto O Sorriso da Hiena me pegou em um ritmo frenético, Quando a Luz Apaga já veio em um ritmo mais lento. Confesso ter estranhado um pouco essa outra forma de escrever esse romance policial que o autor mostrou aqui. Mas, nunca fiquei desinteressada, ou com “preguiça” de pegar o livro para continuar a ler. Só não foi uma leitura “prendendo a respiração” igual aconteceu com seu primeiro livro.
Acredito que de forma mais madura e mais impactante, Ávila nos atinge em cheio com um show de realidade bem cru. Geralmente quando o crime acomete pessoas em situação de rua, ou prostitutas, pouca comoção causa na população. Os crimes muitas das vezes não tem a mesma pressa em serem solucionados. Acontece de às vezes ser melhor nem descobrir quem os comete. E isso é tão vergonhoso e errado de tantas maneiras, que o que senti lendo Quando a Luz Apaga, foi um misto de embaraço com impotência.
E eu acho fantástica essa capacidade de pegar um livro de literatura, e ser bombardeada com um choque de realidade. A vida não para de acontecer porque estamos sentados lendo um livro. Porque estamos no nosso lugar comum. E se não nos atentamos para o que está acontecendo aí fora, tem autor esfregando a realidade na nossa cara, dentro de nossas confortáveis casas.
“(…) quando o silêncio pode ser ouvido a dor parece ser tão profunda.”
Comprei esse livro ainda na pré venda, com a sede de beber das palavras de Ávila. Uma vez que li o autor ainda em sua forma de publicação independente, ansiosa estava por seu livro agora com uma casa importante lá no Grupo Editorial Record. O li em uma Leitura Coletiva com algumas amigas que também consegui “contagiar” com a febre pelas palavras do Gustavo. E fiquei ali… Digerindo. Pensando em como escrever, em como falar sobre o que essa história retrata.
Eu sei que se passaram MUITOS meses entre eu ter terminado esse livro, e eu ter me sentado em frente ao notebook para escrever sobre a história. Eu quero muito que você seja impactado por Quando a Luz Apaga. E estive muito insegura se uma resenha sobre a obra daria conta de mostrar o quanto esse livro é brilhante e importante. O quanto ele abre os nossos olhos. E que também podemos esperar mais e mais do Gustavo Ávila, e do meu queridíssimo Artur Veiga.
Em Quando a Luz Apaga você precisará ter muita atenção. Existem sim muitas personagens. Um monte de história que se cruza. Mas, as conexões acontecem. E o melhor de tudo, as respostas chegam. E os motivos são todos explicados. Eu realmente fiquei impressionada de como o autor trabalhou com o plot final do livro, e me deixou numa crise existencial pós-leitura. Finalizando, eu gostaria de ressaltar que por favor, não abandone a história se sentir um pouco perdido. Se necessário for, faça anotações e cole post it para saber quem é quem. Você vai ser recompensado ao fim dessa leitura.
“(…) a verdade, mesmo quando não é conhecida, existe.”
Enfim, deixe que o título da obra tenha um significado pessoal para você. Veja como o autor consegue conversar com seu íntimo. Seja qual tipo de sentimento que a leitura te cause, clamo para que ela te tire da comodidade, mesmo que seja da comodidade intelectual. Que possamos enxergar o invisível, o indizível, aquele que sofre, mas ninguém se importa com ele.
Gustavo Ávila Nasceu em 1983 e cresceu em São José dos Campos-SP, hoje vivendo na capital de SC. Levou mais de três anos até colocar todos os pontos nos “is” para a publicação de seu primeiro romance, O Sorriso da Hiena. Posteriormente esteve se se dedicando à escrita de seu segundo livro: Quando a Luz Apaga. O autor também tem um conto de publicação independente, Pá de Cal, e que vale muito ser conhecido!
Por: Carol Nery
Site: www.coisasdemineira.com/quando-a-luz-apaga-gustavo-avila-opiniao/