Cassia 02/12/2012
E a ruindade continua...
Imagine que alguém lhe ofereça sorvete, com calda e cobertura. Você se anima e aceita, mas, na hora de provar, mal consegue sentir o gosto, pois a calda e a cobertura têm um sabor tão forte - e estão em quantidade tão exagerada – que a massa passa despercebida sob aquela massaroca toda que puseram nele.
Esta é a sensação exata ao se ler “Cinquenta tons mais escuros”: uma história que tinha tudo para ser interessante, mas que se perde, soterrada por pieguice e clichês em quantidades industriais.
Continuação do famigerado “Cinquenta tons de cinza”, este segundo volume se propõe a contar um pouco mais sobre o protagonista, Christian Grey, e os motivos que o levaram a se tornar a pessoa que é hoje. E, claro, a evolução de seu relacionamento com Anastasia Steele.
Ao longo de todo o livro, somos apresentados a graves fatos do passado de Christian. Porém, talvez a própria escritora tenha se assustado com eles, porque os lança na cara de seu leitor, mas não se aprofunda. Basicamente, ela segue o seguinte princípio: “fato dramático + momento piegas + trepada alucinante + juras de amor eterno + fato dramático...”, e por aí vai, num looping broxante, e que torna a leitura do livro difícil e entediante. Até mesmo momentos que teriam tudo para fornecer uma carga dramática mais forte à história – como quando a vida da protagonista está em risco, por exemplo – perdem-se, dissolvidos nesse polinômio brega.
E Anastasia, a mocinha que AMA (assim mesmo, bem ‘maiusculado’, pois, afinal, ‘O AMOR TUDO VENCE’), vai se tornando uma personagem cada vez mais plana e sem sal.
Lógico que esse é um romance para divertir, e ninguém espera que em suas páginas seja debatido o Teorema do Gato de Schrodinger; mas a coisa não precisa ser superficial num nível que ofenda a inteligência do seu leitor. E o recurso do uso de toneladas de cenas de sexo tórrido para disfarçar as fraquezas e incoerência do texto se mostra cansativo e repetitivo num nível muito pueril.
Honestamente, tive que me forçar para chegar ao final do volume. O que é uma pena, afinal Christian, trabalhado por um autor verdadeiramente bom e corajoso, poderia render uma história cheia de nuances fascinantes, e desenvolvimentos intensos.
Ainda continuo defendendo que este livro, para ser ruim, precisa melhorar – e muito. Para mim, é um mistério que uma série tão medíocre como essa esteja bombando desse jeito.
P.S. (ou spoiler from hell): Neste volume, Anastasia tem a sua iniciação anal (e, que, como todas as primeiras vezes dela, “foi incrível, uma explosão de sensações prazerosas, aumentou a conexão com esse homem maravilhoso, blá, blá, blá...”). Já que – reza a lenda – esse livro anda revolucionando a vida sexual de muitas de suas leitoras, isso deve causar dois efeitos: 1) algumas sortudas descobriram uma nova maneira de sentir prazer sexual; 2) algumas malucas devem estar sentando naquelas almofadas de rosquinha, após perceberem que, na vida real, sexo anal não é essa coisa fácil e prazerosa como chupar uva...