Nicole 25/05/2022Passei muita raivaDepois de alguns anos de ter lido seu precursor, volto pra essa saga por puro TOC e curiosidade mórbida.
Eu já lembrava de não ter gostado do primeiro livro com exceção de algumas poucas cenas de sexo que eu havia achado interessantes na época que eu li - mas não lembrava de ser tão ruim e mal escrito. São diversas páginas de diálogos inúteis e troca de emails que não agregam nada na história, só mostram como ambos os personagens são vazios e imaturos, não consigo gostar de nenhum dos dois. A Ana é basicamente uma pré-adolescente, ingênua, boba e praticamente não tem qualidade alguma e fica difícil entender a obsessão do Christian por ela - o que em determinado momento do enredo é explicado em partes mas acaba piorando MUITO mais, porque é um motivo muito forçado. Já o Christian, apesar de ser construído pra ser um personagem “perfeito” (milionário, bonito, autoconfiante) tem sua personalidade muito mal construída pois nada embasa todas essas características. Sua riqueza, por exemplo, mal é explicada e o leitor simplesmente tem que aceitar que um cara que veio de uma pobreza extrema se tornou tão rico com a idade de 27 anos, meramente porque ele é incrível.
Outro péssimo ponto do livro é a romantização do controle e abuso dele. A Ana não é totalmente vítima pois ela se espelha nele em muitas dessas atitudes como o ciúme possessivo então faz sentido que ela não problematize tanto suas ações, apesar de ela demonstrar um leve incômodo em alguns momentos. É insuportável a quantidade de momentos que ele trata ela como inválida, não deixando ela dirigir o próprio carro, se locomover, fazer escolhas e fica presenteando ela com coisas que ela estritamente diz que não quer.
Que esse livro é machista acho que nem preciso comentar, mas uma questão que me incomodou muito nesse tópico é como o livro constrói a ideia de que ele é o mocinho problemático, e ela, a salvadora - a mulher vem como a heroína pra resgatar ele de todo o mal e seus traumas e fazer ele ser uma pessoa melhor. Ele objetifica a Ana o tempo inteiro, não tem um minuto que ele não olha pra ela ou trata ela como um pedaço de carne. Inclusive, em diversos momentos nos quais ela tenta ter uma conversa séria com ele, é recorrente dele mudar de assunto e começar a provocá-la, trazendo o sexo como fuga e distração do que ela gostaria de dialogar.
A representação do BDSM no livro também não é acurada, e uma ilustração muito crítica disso é a forma que o Christian descreve que “preciso bater, é quem eu sou, preciso me aliviar”. O BDSM não é terapia, não se usa as práticas como forma de escape, os seus problemas psicológicos você resolve FORA da relação, carregá-los juntos é não só tóxico como extremamente perigoso e irresponsável.
No geral, o livro não tem grandes acontecimentos, são cenas e mais cenas de sexo que chegam a se tornar cansativas de tão repetitivas porque são praticamente as únicas interações que os personagens tem, até mesmo em diálogos o sexo é trazido o tempo todo e nunca fica fora de questão. O livro tem muitas páginas e praticamente não acontece nada, teve 3 ou 4 acontecimentos relevantes fora todo o erotismo, dentre eles um pedido de casamento aleatório num momento bizarro que me causou um ataque de riso.
A única explicação plausível que consigo encontrar para esse livro ter ficado tão famoso, é a falta imensa que temos de romances eróticos escritos para mulheres. O mundo é recheado de objetificação feminina em tanta propaganda, pornô feito pra homens, que uma história erótica que tenha um quê de romantismo e um pouco de foco no prazer da mulher não precisa de muito para se destacar.
Infelizmente, acredito que vou querer ler o resto da saga num futuro distante, mas preciso de um tempo pra me recuperar de todo esse ódio que passei.