Gabriel 07/11/2019
Denso e Sufocante.
Acredito que esse tenha sido o livro mais difícil que li esse ano. Precisamos Falar Sobre Kevin é uma leitura densa, pesada e perturbadora em que Lionel Shriver escreve a mais crua e nua verdade sobre jovens aparentemente normais que entram em escolas e tiram as vidas de outros estudantes, professores e funcionários. Utilizando a realidade americana em que tragédias como essa são cada vez mais corriqueiras, o livro mergulha na vida de um jovem problemático e como as consequências de seus atos afetam os demais membros da família; no entanto, o grande foco da obra é entender como coisas como essa acontecem e de quem é a responsabilidade. Seria dos pais que não perceberam os sinais? A escola que não soube identificar o problema? Esses são apenas alguns questionamentos dos muitos que acontecem ao longo das mais de 400 páginas que a história é contada.
"Desculpe, mas você não pode esperar que eu evite o assunto. Posso não saber como chamar aquilo, aquela quinta-feira: atrocidade parece coisa tirada de jornal, incidente é minimizar de forma escandalosa, quase obscena, o que houve, e o dia em que nosso filho cometeu assassinato em massa é comprido demais para cada menção que eu fizer, certo? E eu vou fazer. Acordo com isso na cabeça todas as manhãs e durmo com isso todas as noites. É meu parco substituto para um marido. "
Precisamos Falar Sobre Kevin é todo narrado a partir da visão de Eva que envia uma série de cartas para seu marido, dando detalhes e descrevendo todas as experiências vividas com Kevin até o fatídico dia em que tudo acontece. Eva era uma mulher que se sentia satisfeita com a vida que levava, tanto no âmbito pessoal, quanto pessoal. Autora célebre de guias turísticos e vivendo um casamento feliz, Eva nunca demonstrou nenhuma vontade em se tornar mãe, mas devido a pressão extrema que seu marido fazia para aumentarem a família, Eva acaba cedendo e dá luz a Kevin. O livro é cru e por diversas vezes, Eva demonstra a aversão que sentia por Kevin antes mesmo de seu nascimento: Ser mãe nunca havia sido sua vocação. O livro continua seguindo e através das cartas, vamos conhecendo mais detalhes a respeito da infância e adolescência de Kevin, que sempre tratou a mãe com hostilidade, reflexo de sua criação. Apesar da aparente normalidade da relação de Kevin com seu pai, o jovem sempre se demonstrou rebelde e fechado. O tratamento com sua irmã mais nova, segunda filha do casal, não era diferente e frequentemente sofria com as brincadeiras maldosas do irmão.
"Você só consegue afetar quem tem consciência. Só pode punir quem tem esperanças para serem frustradas ou laços a serem cortados quem se preocupa com a opinião dos outros. Você, na verdade, só consegue punir quem já é pelo menos um pouquinho bom."
É uma narrativa muito densa e que você se sente muito mal enquanto lê, pois a autora explora muito sentimentos como luto, revolta e culpa, mas como citei lá no início, não é um livro muito fácil de ser lido, uma vez que a autora abusa de descrições e longas divagações por parte da personagem. O grande foco da obra, em minha opinião, não é detalhar os atos de Kevin, mas sim esmiuçar a frágil relação de uma família suburbana e tentar entender o que pode causar uma tragédia como essa. É uma obra em que é necessário estar preparado e acredito que mesmo assim irá encontrar dificuldades para avançar na leitura, no entanto, é uma obra completa e atemporal que segue servindo para a inspiração de muitas outras histórias.
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