Carol 11/11/2021Impressões da CarolLivro: Os demônios {1872}
Autor: Fiódor Dostoiévski {Rússia, 1821-1881}
Tradução: Paulo Bezerra
Editora: 34
704p.
Em regra, um bom livro se sustenta por si, sem que você precise conhecer a biografia do autor ou o contexto no qual foi escrito. Mas tal regra não se aplica ao monumental "Os Demônios", de Dostoiévski. Sua leitura será muito mais proveitosa se você souber que:
? Os autores russos do século XIX estão em constante debate social, filosófico, religioso, cultural e político por meio da literatura, já que a censura czarista tolhia o livre pensamento nas universidades e não havia partidos políticos.
? Em certo sentido, "Os demônios é uma resposta a "Pais e Filhos", de Turguêniev, livro que apresentou ao mundo a figura do niilista Bazárov. Se Turguêniev não toma partido entre a sua geração, dos idealistas, de 1840, e os niilistas, de 1860, Dostô se opõe ferrenhamente ao radicalismo dos jovens.
Para ele, o niilismo é um problema teológico e antropológico: a substituição de Deus pelo indivíduo leva à degradação moral e social. Sem Deus, o indivíduo se dissolve.
? Como de costume, Dostô se baseia num caso real para construir seu romance: um crime ideológico cometido na Faculdade de Agricultura de Moscou, pela organização clandestina Justiça Sumária do Povo - o "Caso Nietcháiev".
"Esses demônios, que saem de um doente e entram nos porcos, são todas as chagas, todos os miasmas, toda a imundície [...] que se acumularam na nossa Rússia grande, doente e querida por todo o sempre." p. 637
A fala acima de Stiepan e a segunda epígrafe do romance - a cena na qual Jesus exorciza um possesso da região de Gadara - já lhe dão a chave de leitura. ?Não entrarei no enredo, propriamente, pois acredito que a surpresa seja crucial para o encantamento do leitor. Mas saiba que, para Dostô, o mal é o grande tema.
"Os demônios" foi minha MELHOR leitura do ano. Li em julho e ainda me pego pensando em toda genialidade de Dostô para construir um romance com tantos personagens, conflitos e temas pesadíssimos, sem deixar ponta solta.
Li o livro com o @litrussa e essa leitura tão rica só foi possível graças à mediação do @cesarmrins.